Das dores físicas


Eu não sou mais a mesma pessoa. 
Não tenho mais a estrutura física que tinha há cinco ou dez anos atrás. 
Minha musculatura está mais fragilizada, minha estrutura óssea não segue como a maioria das pessoas da minha idade.
Eu sinto dores todos os dias e em alguns deles, o dia todo.
Eu não posso comer certas coisas, tampouco beber socialmente como antes. Um simples drink agrava em 500% minhas dores.
Eu não consigo trocar um pneu, um galão de água... Às vezes, não consigo nem me vestir sozinho com facilidade. Com o tempo, vou desenvolvendo a habilidade de adaptar as coisas para “me virar” sozinho. Falando em me virar, me viro cerca de sessenta vezes durante uma única noite de sono, que na maioria das vezes é induzida por medicamentos, pois ficar deitado, também não é mais uma opção para mim.  
A minha dor não é aparente. Não há como conseguir ver, mesmo que eu queira mostrar, ainda assim, vai precisaria de muita empatia.  Por este motivo, sempre ouço que sou exagerado, melindroso, sensível, dramático, entre outras coisas, quando resolvo exteriorizar minhas limitações.
“Deixa de preguiça”, “Larga de ser frouxo”, “Você estava sorrindo até agora”, “Mas, ontem você estava passeando em tal lugar”, “Você gosta de um remedinho, né?”, “Você não tem consideração por mim”, “ Se você quisesse mesmo, iria/faria”... são afirmações já conhecidas por mim. Dá um desânimo.
Também ouço que preciso me tratar. É cansativo falar a quantidade de tratamentos que já tentei (e ainda tento), a infinidade de medicamentos que já experimentei, os vários e dolorosos exames que preciso de tempo em tempo repetir, a quantidade de dinheiro que gasto e já gastei para ter o mínimo (do mínimo) de qualidade de vida possível.
Falando em tentar, eu já tentei desistir várias vezes, e ainda tento, vez ou outra, porém, tenho a consciência de que é a pior coisa que eu poderia fazer por mim e sigo abdicando cada dia de mais coisas que eu gosto de fazer para tentar amenizar os efeitos da dor. Coisas que ninguém vê, porque sim, eu mascaro, e ainda quando pensam que estão vendo, não é com bons olhos.
É por essas e outra que eu decidi me calar. Explicar tudo, desde o começo é cansativo e não deixa de ser dolorosas as tantas tentativas frustradas e os “nãos” cotidianos. Inclusive dos médicos que vez ou outra dizem que já não podem fazer mais nada por mim e me indicam um outro "colega".

O que quero dizer com tudo isso é: Não há como medir a dor alheia, ela só pode ser mensurada por quem sente. Respeite a dor dos outros.


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